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terça-feira, 9 de junho de 2015

Populares no século XIX bombardeiam navio de guerra britânico no Brasil (III).

(continuação...)


O navio inglês levou a pior. Combatendo em águas interiores e com suas manobras limitadas pelo reboque dos navios apresados, o Cormorant sofreu importantes danos. Os próprios brigues Dona Ana e Sereia foram seriamente atingidos e o capitão Schomberg afundou-os na entrada da baía. Mas, a galera Campeadora já tripulada por ingleses seguiu viagem até Serra Leoa, na África. Entre os ingleses houve três baixas, uma fatal e outras duas apenas feridos. No lado dos brasileiros os danos materiais foram mínimos e houve apenas feridos leves.

Como consequência de suas ações bélicas os paranaenses que atentaram contra o navio britânico foram recebidos com honras pela população da cidade, mas não é errado se dizer  que muitos deles não passavam de pessoas que viviam do tráfico de escravos.

A reputação da Royal Navy havia sido maculada. Um moderno navio inglês ser atacado por uma velha fortaleza com armamento antigo, improvisado e guarnecido, em boa parte, por civis destreinados já era motivo de vergonha suficiente.  Os atos ocorridos na baia de Paranaguá acirraram os ânimos do governo britânico, que exigiu uma reparação formal do governo brasileiro.

Naquele tempo D. Pedro II, que reinava e governava o Brasil desde os 15 anos de idade (1840) estava perto dos 25 anos e já tomara bom pulso sobre a política e o país. Coube, porém, ao seu governo atuar, o que coube ao Ministro da Justiça, Eusébio de Queiros, que propôs uma lei que extinguia o tráfico negreiro no Brasil, a qual foi aprovada pelo parlamento e sancionada pelo monarca (Lei no. 581 - de 04 de setembro de 1850).

Sobre ela escreveu Eliardo França Teles Filho:  

Consta que após o fim do tráfico, o país entrou em uma fase de prosperidade econômica, uma vez que boa parte dos capitais antes investidos no tráfico ilegal de escravos se converteu para a economia formal. Por outro lado, atribui-se a esta lei a virtude de ter dado início ao processo de transformações econômicas que levaria à decadência da forma de produção escravista. Isto porque o fim do tráfico gerou uma carência de escravos, levando ao aumento de seu preço e ao direcionamento do estoque existente apenas para as atividades produtivas mais dinâmicas, isto é, a plantação de café. Com isso, abriram-se postos de trabalho para a mão de obra livre nas zonas urbanas e nas regiões não produtoras de café, dando início à transição da economia escravista para a economia com mão de obra assalariada”.
            
                         
Bom se saber, que naquela época o Império do Brasil preparava-se lenta e cuidadosamente para intervir no Prata e derrubar Juan Manuel de Rosas, o ditatorial governante argentino, algo que precisaria ao menos da complacência britânica para ser concretizado. Daí ter então, que “pisar em ovos” em tudo que se referisse a irascível Albion, o que também explica a leniência de suas ações com o poderoso Império Britânico diante do ultraje, que este sofrera em Paranaguá.

No fundo ainda D. Pedro II era contra a escravidão dos negros e o ministro Eusébio de Queiroz compartilhava deste ideal. Mas, as resistências internas a sua abolição eram bem grandes e o Estado Imperial temia precipitar uma grave crise política e econômica no país se a decretasse.

De qualquer forma, a Lei Eusébio de Queiroz produziu lentos efeitos na sociedade, custando a pegar, mas isto acabou ocorrendo, mas bem aos poucos , tanto que só em outubro de 1855 se verificou o último desembarque de escravos em Pernambuco, cujos implicados foram presos.

                                                              


(o Imperador D. Pedro II)


Com o passar do tempo o capitão Schomberg alcançou o posto de almirante já no final de sua carreira. Já o capitão Barbosa, comandante da fortaleza, por não impedir a tomada do quartel por civis, foi rebaixado à condição de soldado de terceira categoria. Quanto ao “Bill Aberdeen” o governo inglês veio a revoga-lo em 1869, o que demonstra que só então eles se convenceram que o tráfico de escravos para o Brasil já cessara. Quanto a velha fortaleza, há muito desativada, ela sofreu uma restauração entre 1985 e 1995, em parte graças a recursos do Banco Mundial e hoje em dia abriga um pequeno museu. Destaco que as imagens dela aqui estampadas são as atuais.



Fontes:
 
TELES FILHO, Eliardo França. Eusébio de Queiroz e o Direito: um discurso sobre a Lei n. 581 de 4 de setembro de 1850. Rev. Jur., Brasília, v. 7, n. 76, p.52-60, dez/2005 a jan/ 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/rev_76/artigos/PDF/EliardoFranca_Rev76.pdf 
Acesso em: 02/05/2015

FROTA, Guilherme de Andréa. 500 ANOS DE HISTÓRIA DO BRASIL. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército. Edição 2000.

Wikipédia, a enciclopédia livre. http://pt.wikipedia.org/wiki/Incidente_de_Paranagu%C3%A1 Acesso em: 30/04/2015.

Wikipédia, a enciclopédia livre.  http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_II_do_Brasil#Consolida.C3.A7.C3.A3o Acesso em: 30/04/2015.

Tok de História. http://tokdehistoria.com.br/tag/forte-de-paranagua/ Acesso em: 30/04/2015.

Fortalezas.org. http://fortalezas.org/?ct=fortaleza&id_fortaleza=433 Acesso em: 30/04/2015.

Panoramio. Google Maps. http://www.panoramio.com/photo/2524920 Acesso em: 30/04/2015.

Multirio: História do Brasil. http://www.multirio.rj.gov.br/historia/modulo02/queiros.html. Acesso em: 03/05/2015.
 
 

 
 
 

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Populares no século XIX bombardeiam navio de guerra britânico no Brasil (II).

(continuação...)


Uma ação militar britânica e a imediata reação armada de vários brasileiros:

Diante destas ações, elementos do povo começaram espontaneamente a agir contra os britânicos por conta própria, desde agressões físicas à tripulantes nas ruas do Rio de Janeiro, como também nas demais cidades e até mesmo nas praias, onde desembarcavam. Por exemplo, em 1850, um marinheiro inglês foi morto dentro do escaler do HMS Rifleman, quando um grupo de civis armados surpreendeu os marinheiros ingleses, que se refugiavam em pequena embarcação de uma forte tempestade no atual município de Guarujá, litoral paulista. Esta ação dos paulistas decorreu daquelas atitudes da marinha inglesa na costa brasileira, que irritavam a sua população.

Mas, a força naval britânica era realmente muito poderosa. Uma parcela desta, chegou em setembro de 1849 as águas sul-americanas, sob o comando do Contra-Almirante Barrington Reynolds. A nau capitânia era a fragata HMS Southampton, sob o comando do Capitão Cory, guarnecida com 50 peças de artilharia, coadjuvada por outros navios: a corveta a vapor HMS Sharpshooter, a corveta a vapor HMS Rifleman sob o comando do Tenente Crofton, a corveta a vapor HMS Tweed, a corveta a vapor HMS Harpy e a corveta a vapor com rodas laterais HMS Cormorant sob o comando do Capitão Herbert Schomberg. Haviam os navios de apoio: HMS Crescent e HMS Hermes, os quais atuavam para dar apoio àquela esquadra, trazendo suprimentos e carvão da Inglaterra. As corvetas a vapor eram basicamente equipadas com quatro canhões laterais de calibre 64 e duas torres sobre eixos com canhões de calibre 80.

O HMS Cormorant durante patrulhamento cruzou, na altura do litoral paranaense, o caminho de alguns navios brasileiros com aparentes evidências de transporte  negreiro. Os navios brasileiros não obedeceram à ordem de inspeção da nau inglesa e tomaram rumo a cidade portuária de Paranaguá. No dia 29 de junho de 1850, a corveta inglesa adentrou a baia de Paranaguá em perseguição a eles. No porto já se encontravam outros barcos. Neste dia o capitão inglês aprisionou os brigues Dona Ana e Sereia e a galera Campeadora. Note-se que nenhum cativo encontrava-se a bordo de qualquer deles, e se eles ali antes de achavam foram todos desembarcados a tempo. Para não ter o seu navio aprisionado o capitão do brigue Astro, José Francisco do Nascimento, afundou o seu navio, dizendo-se que os escravos que ali havia pereceram nisto.

Seu comandante sentia-se a salvo de insucessos, pois o Cormorant era uma corveta de casco de madeira, possuía propulsão a vapor e a vela, com uma grande roda de pá na lateral. Tinha um deslocamento de 1.590 toneladas, 55 metros de comprimento, uma tripulação com 45 homens e um armamento de quatro canhões laterais de calibre 64 e duas torres sobre eixos com canhões de calibre 80. Uma imponente nave de guerra!
 
                                                      



(corveta inglesa HMS Cormorant)

                                   
                                   






Neste mesmo dia as principais autoridades locais foram a bordo do Cormorant e parlamentaram com seu comandante Hubert Schumberg sobre os fatos ocorridos na baia. Nesta visita o capitão inglês apresentou um ofício relatando seus atos às autoridades locais, porém, eles se recusaram a receber o documento. Mas, o chefe naval nada fez para revogar seus atos anteriores e ainda acusou os visitantes presentes de serem cumplices do tráfico negreiro. Sabedores disso e vindos da localidade, alguns jovens destemidos resolveram tomar atitudes viris em nome da soberania nacional, sendo nisto acompanhados pelas tripulações dos navios apresados.

Todos eles desembarcaram no dia seguinte pela manhã na Ilha do Mel, aonde existia a obsoleta fortaleza Nossa Senhora dos Prazeres, e após entendimentos com o comandante da mesma, capitão Joaquim Ferreira Barbosa, fizeram incansáveis preparativos para o enfrentamento. Durante toda a noite, debaixo de muita chuva, um intenso fluxo de embarcações de pequeno porte levou para a fortaleza muita pólvora, armas portáveis, explosivos e projéteis. Para lá também seguiram carpinteiros e ferragens. Com muita boa vontade aquelas pessoas e a pequena guarnição da fortaleza, conseguiram montar entre dez e quatorze peças de artilharia sobre paus e pedras e dota-las das necessárias guarnições e respectivas munições.
                                                               

 (parte da muralha e entrada da citada fortaleza – foto de Paulo Yuji Takarada)

 
 
 
Eram cerca de nove da manhã de 1.° de julho de 1850, quando o  HMS Cormorant apareceu no rumo à barra, trazendo consigo a reboque os barcos brasileiros. Como o barco inglês vinha lento, o então comandante da fortaleza enviou um ofício ao capitão inglês, através de um escaler comandado por um sargento. Os termos deste ofício faziam menção de que o cruzador de guerra deveria seguir viagem sem os navios apreendidos, deixando estes em poder das autoridades locais e na desobediência deste ofício a fortaleza faria fogo ao vapor da Royal Navy. O ofício nunca foi entregue, pois o escaler nacional antes de chegar a nave foi repelido com um tiro de advertência de pólvora seca pela tripulação inglesa.


Diante disso a fortaleza revidou com um tiro e novamente o Cormorant fez fogo, agora para valer e visando a ilha, sendo em resposta alvejada por várias bombas de calibre 80 e balas 36. A guarnição da Ilha do Mel fez novos disparos, agora com todas as peças da fortaleza e nos trinta minutos que se seguiram houve o confronto entre a artilharia brasileira da fortaleza e os seis canhões do cruzador HMS Cormorant. O canhoneio brasileiro só cessou quando aquela nave sempre em movimento saiu do alcance das bocas de fogo brasileiras.

                                                             


      (imagem da ilha do Mel e de sua fortaleza - foto de Paulo Yuji Takarada)

    
 
 
(continua...)

domingo, 3 de maio de 2015

Populares no século XIX bombardeiam navio de guerra britânico no Brasil (I).

                                              Introdução:

 
Bom se começar dizendo-se algo sobre os britânicos e seu império mundial, que é de domínio público e conhecimento geral. A Grã-Bretanha em tempos idos, aproveitando-se de uma época a ela propicia  e ainda da pobreza e fraqueza de muitos povos atrasados, usando de dinheiro e força militar apoderou-se de muitas terras espalhadas pelo mundo, colocando aos seus habitantes debaixo do seu guante imperial. Para interligar a metrópole as colônias desenvolveu uma grande frota mercante, que transportava homens e bens pelos oceanos. E a fez guardar por uma poderosa marinha de guerra, que no seu auge acabou sendo equivalente ao de duas potências, o que colocou a generalidade dos países submetidos a ela.
 
                                                              
 (bandeira britânica)


 
  

 
Também a partir da segunda metade do século XVIII aquele país criou e manteve uma grande indústria baseada no uso industrial das máquinas movidas a vapor d’agua para abastecer de bens industriais ao seu país e vender os seus excedentes no exterior. Era um estado poderoso, ao qual nenhum país poderia contrapor o seu próprio poder.
                                                          
(imagem da revolução industrial britânica)
 

Já no século XIX a Grã-Bretanha, por razões de política interna, o que se deu entre os anos de 1806 e 1807, acabou com o tráfico negreiro em todo o seu Império e mais tarde, em 1833, proibiu o próprio trabalho escravo.
O Brasil surgido como colônia portuguesa foi submetido a sua metrópole de 1500 a 1821, sendo penosamente colonizado e ocupado, primeiro por uns poucos portugueses, auxiliados por certo número de indígenas, com o tempo reforçados paulatinamente por jovens mamelucos (descendentes de brancos e índias), que unidos e agindo com muita coragem desbravaram sertões e os ocuparam. Portugal, porém, era pequeno e tinha limitada população, parte da qual pereceu nas navegações e conquistas feitas pelo estado português. Era impossível fazer-se a colonização de uma terra tão vasta com tão poucas pessoas. Por isto recorreu-se a escravização dos negros oriundos da África, contando-se com a vil cumplicidade da Igreja Católica, que apoiava este desumano uso, para assim garantir rendas e bens a ela própria. Tal a principal razão da escravatura negra no Brasil, promovida e mantida por 321 anos por Portugal e seus reis.
A independência do Brasil fez-se através de uma aliança politica entre o príncipe real lusitano, Dom Pedro, alguns nacionalistas, idealistas e patriotas, e muitos senhores de terras e de escravos, o que impossibilitou a libertação dos cativos e a proibição do tráfico nefando. Pois, o novo país vivia essencialmente da sua produção agrícola, então totalmente baseada nos braços escravos. Liberta-los a todos, seria arruinar-se a sua economia. Por isto ainda sob o governo de Dom Pedro II e quase até o seu final manteve-se a escravidão negra, que, como todos sabemos e salvo algumas concessões pontuais perdurou até 1888, ou seja, por 66 anos.
A produção agrícola brasileira de café e açúcar, por mãos escravas, superava a produção colonial inglesa dos mesmos produtos nas Antilhas e tinha preços mais baixos, que estas. Foi por isto que durante toda a primeira metade do século XIX, o Brasil, esteve sob intensa pressão inglesa para terminar com o tráfico de escravos africanos. O que começou, já aos tempos da regência e depois no posterior reinado de Dom João VI e prosseguiu mesmo após a independência brasileira.
 
Estas fortes “démarches” geraram em 1831, a Lei de 07 de novembro de 1831, por meio da qual todos os escravos africanos que entrassem no Brasil a partir daquela data seriam declarados livres e os contrabandistas de escravos sofreriam severas penalidades. Diploma, este que teve eficácia por poucos anos, pois mais ou menos a partir de 1837 o tráfico já tinha retomado sua força e alguns anos depois atingia proporções nunca antes vistas.
Foi diante disso, que o parlamento britânico, aprovou a lei chamada “Bill Aberdeen”, na verdade, o  “Slave Trade Suppression Act”, ou “Aberdeen Act”, que foi a lei que autorizava os ingleses a aprisionar quaisquer navios suspeitos de transportar escravos no oceano Atlântico, medida a ser cumprida pela sua poderosa marinha de guerra.
                                                             
(captura de navio negreiro por uma nave militar britânica)
 


Tais os antecedentes desta história, que devem ser necessariamente relembrados. Passo agora aos fatos objeto deste artigo.


(continua...)

sexta-feira, 3 de abril de 2015

Batalha Naval do Riachuelo e sua influência sobre o destino da Guerra do Paraguai.

                                                             
                                                             Breve introdução:


Velhos e bons livros acabam esquecidos em prateleiras de bibliotecas e por causa disso bons textos deixam de vir ao conhecimento público. Pensando nisto reproduzo este fragmento de um deles, que se vê a seguir, com o devido crédito, para assim divulga-lo aos que porventura leiam este blog. Claro, acresci tudo de algumas imagens, inexistentes no original, para lhe dar mais vida e colorido.

BATALHA NAVAL DO RIACHUELO E SUA INFLUÊNCIA SOBRE O DESTINO DA GUERRA COM O PARAGUAI

“Ao observador superficial dos nossos fatos históricos parecerá exagerada a afirmação de que a batalha do Riachuelo exerceu influência decisiva sobre o desenvolvimento das operações e o desfecho final da guerra a que nos arrastou o déspota do Paraguai. Isto porque, travada a batalha a 11 de junho de 1865, a guerra só terminaria, no entanto, quase cinco anos depois, a 1.° de março de 1870. Como influência decisiva  perguntarão muitos — se a luta ainda se prolongou por tão longo tempo?

Antes de tudo, precisamos considerar a posição e o valor numérico das forças beligerantes de terra na ocasião do recontro naval, bem como, principalmente, a orientação político-estratégica dos nossos inimigos.


                                                           

(Solano Lopes em tela a óleo)
 
 
Quando Solano Lopez, com aprisionar ostensivamente o "Marquês de Olinda", atirou-nos o cartel de desafio para a luta, o Brasil levantou-se estremunhando, pois que era então, como ainda hoje, o eterno gigante que dorme. Desprevenido de recursos bélicos, sonhando utopisticamente com as delícias da paz, ele assistiu quase que estarrecido à invasão do seu território, sujeitas as populações e cidades fronteiriças aos vexames impostos por uma onda de bárbaros — desde o assassínio frio ao estupro, desde o roubo desenfreado ao talamento dos campos. Diante da situação de fato, apelou-se para o nunca desmentido patriotismo dos brasileiros como o remédio salvador de todos os tempos. E de toda parte acorreram voluntários. E organizaram-se batalhões. E adquiriram-se armamentos. E encomendaram-se navios. E pensou-se, enfim, na realidade brutal da guerra.
 


(apresamento do navio Marques de Olinda no Paraguai)


 

Os nossos aliados do Prata não estavam melhor preparados. De modo que em junho de 1865, as tropas que podíamos contrapor aos invasores eram, em Corrientes, os 6.500 homens dos generais Paunero e Caceres, e, mais aquém, na Concordia, os 12.000 recrutas de Osório e Mitre.
E eles — os paraguaios - que apresentavam contra nós? Robles, à frente de um poderoso exército de 25 mil homens, depois de atravessar o Paraná no Passo da Pátria, invadira Corrientes e avançava paralelamente ao grande rio com destino a Entre-Rios. Estigarribia e Duarte, comandando o primeiro uma coluna de sete mil e quinhentos homens e o segundo outra de três mil, caminhavam em cada uma das margens do Uruguai rumo da vila brasileira de Uruguaiana e da corrientina de Restauracion. As hostes de Barrios e Resquin assolavam Mato Grosso.
Que objetivos guiavam as forças paraguaias? Dirigindo-se a Entre-Rios contava Robles com o anunciado apoio dos federais chefiados por Urquiza. Penetrando na República Oriental tinha Duarte como certo levantar os blancos, inimigos rancorosos do Império, e com eles constituir a vanguarda do exército invasor. Resta Estigarribia. Este, invadindo a próspera província do Rio Grande, tencionava nela implantar a desordem, e talvez a desagregação, promovendo um levante de escravos para mais facilmente conseguir seus objetivos militares.
 
Nestas condições, para a completa realização do plano de Lopes, apenas faltava a livre navegação do Paraná, que a esquadra brasileira interceptava, impedindo não só o abastecimento por via fluvial ao grande exército de Robles, como, ademais, ameaçando cortar-lhe a retirada.
 
Com efeito, quer bloqueando o território paraguaio nas Tres Boccas, quer concorrendo eficazmente para a retomada de Corrientes, a nossa força naval apresentava-se, além de adversário temível, como o entrave mais sério a ser vencido no momento.
 
Daí deixar Lopez Assunção e, dirigindo-se a Humaitá, organizar ele próprio a expedição temerária que resultou no fracasso do Riachuelo. O plano era muito simples. A nossa esquadra, fundeada um pouco abaixo da cidade argentina de Corrientes, compunha-se, no dia 10 de junho, de nove unidades. Lopez escolheu, por sua vez, nove de seus melhores navios, guarneceu-os com o escol da Marinha e do Exército paraguaios, entregando o comando deles ao mais antigo dos seus oficiais de mar, o velho comodoro Mezza, provecto conhecedor da navegação do Paraguai e do Paraná. Esses nove navios, partindo de Humaitá na noite de 10, deveriam alcançar a esquadra brasileira na madrugada do dia 11. Cada navio paraguaio abordaria um dos navios brasileiros. Estes, atacados de surpresa, decerto não resistiriam; mas se resistissem, repelindo a abordagens, lá estavam para impedir-lhes a fuga as seis chatas armadas com rodízios de 68 e 80 trazidas a reboque pela força de Mezza e, mais do que isso, a formidável bateria de 22 bocas de fogo e os dois mil atiradores dispostos por Bruguez nas barrancas do Riachuelo.

"Acaben com los brasileños pero traigan sus buques intactos para refuerzo de nuestra escuadra!" — foram as últimas palavras da proclamação de El Supremo aos expedicionários. Um dos seus navios, porém, o "Yberá", sofreu um desarranjo nas máquinas e ficou no caminho. As 14 unidades restantes (oito navios e seis chatas), prejudicadas na sua marcha por esse contratempo, só às 9:00h da manhã defrontavam os navios brasileiros.

Parece que o chefe Mezza não se sentiu com coragem para a realização da abordagem em pleno dia, encontrando a nossa força, como encontrou, perfeitamente aparelhada para o combate. Daí a sua resolução de desfilar a toda velocidade pela nossa frente e ir postar-se sob a proteção da artilharia de Bruguez, junto à embocadura do Riachuelo, onde o foi buscar, para derrotá-lo, a intrepidez e competência profissional de Barroso.
 
                       
                                                (Batalha Naval do Riachuelo – tela de Victor Meirelles)

 
 

Se nós tivéssemos perdido a batalha, é fácil de acompanhar o rumo que tomariam os acontecimentos. A esquadrilha paraguaia, descendo o Paraná, faria de Montevidéu sua base estratégica de operações. Robles teria o caminho desimpedido, e certamente as simpatias dos entrerrianos pelo Paraguai não se resumiria na demonstração platônica da debandada de Basualdo, senão num apoio mais decidido. Reforços seriam enviados a Estigarribia e a Duarte, e tanto a República Oriental como a província do Rio Grande seriam dominadas inteiramente.

O pensamento vacila, atemorizado, ante a perspectiva que se desdobra! Se completamente isolado do exterior como ficou desde o começo da guerra, pôde Lopez sustentar a luta durante cinco longos anos, obrigando-nos a despesas fabulosíssimas e ao sacrifício de cem mil vidas, que não faria ele se atingisse Montevidéu e dominasse de pronto a navegação do Paraguai e do Paraná? A que imensas proporções não atingiria a campanha se a República mediterrânea pudesse receber do mundo inteiro, que a olhava com simpatia os recursos que o nosso bloqueio não lhe permitiu adquirir? Recebendo da Inglaterra e da França os encouraçados que aí tinha em construção quando rebentou a guerra, o arrojo do ditador paraguaio decerto nos viria combater dentro da própria capital do Império!

Isolado do mundo, o Paraguai, graças a las onzas de oro que o Ministro Berges distribuía, conseguiu as simpatias de grande parte da imprensa universal. Vencedor no Riachuelo, com a chave do Prata nas mãos, todos os louvores seriam para o jovem David — como chegou a ser comparado — que arrostava impavidamente as fúrias imperialistas do gigante Golias...

Felizmente, porém, fomos os vencedores. E as consequências também não se fizeram esperar. Duarte, pouco depois, em Itajaí, era fragorosamente batido pela vanguarda do exército aliado ao mando do general Flores. Estigarribia, isolado em Uruguaiana, rendia-se sem dar um tiro. Robles era obrigado a retroceder da posição ocupada, e, mais tarde, a evacuar Corrientes.

A batalha naval do Riachuelo, portanto, considerada sob o ponto de vista das consequências políticas imediatas, teve uma importância decisiva sobre a sorte de toda a campanha. Sob o ponto de vista militar sua importância foi ainda mais decisiva, porquanto destruímos o poder naval adversário continuando com o domínio pleno de toda a navegação fluvial.


 
 
(bandeira imperial do Brasil)

Resta a descrição da batalha. Esta, porém, está tão viva, no espírito e no coração dos brasileiros, que fora supérfluo aqui rememorá-la. Basta dizer que os feitos dos que nela se empenharam de nossa parte — desde o chefe ao menos graduado dos tripulantes constituem exemplo e padrão de orgulho para as gerações que se sucedem. Barroso, Pedro Affonso, Hoonholtz, Greenhalgh, Marcilio Dias são hoje figuras lídimas de heróis não apenas do Brasil, senão do próprio continente sul-americano!”

 


 

 
 
 
Fonte: PRADO MAIA. Através da História Naval Brasileira. São Paulo: Companhia Editora      Nacional. Edição 1936.
 
 
 

 

domingo, 22 de março de 2015

Corsários holandeses atacam Santos e São Vicente no século XVII.


(Le portrait de Capo de St. Vincent en Brésil- estampa de Miroie Oest et West Indical, publicada em 1621 por Jan Janez, editor de Amsterdam)

 
Neste desenho do século XVII se resumem com escassa precisão e diversos erros palpáveis o cenário das ações desenvolvidas por corsários holandeses contra as vilas de São Vicente e Santos, sitas na Ilha de São Vicente, em 1615, e a reação a eles opostas por seus habitantes.

Mas, é bom antes de tudo se começar rememorando o passado distante, lembrando-se que os holandeses participaram do empreendimento açucareiro no Brasil, oriundo do reino de Portugal, desde os seus primórdios. Mas, em 1580, Felipe II, rei da Espanha, ascendeu ao trono português, sendo por sua morte sucedido no trono luso por mais dois reis hispânicos. Foi a chamada União Ibérica, que perdurou até 1640. Totalmente impedidos durante ela de continuar a participar dos lucros da indústria açucareira brasileira, por serem ferrenhos inimigos dos espanhóis, os batavos partiram para o uso da força, o que explica este feroz episódio, que tanto traumatizou aos colonizadores da Ilha de São Vicente.

Voltando agora aos fatos objetos desta devo destacar a origem da frota atacante, que navegava sob a bandeira da “Vereinigda Oostindische Compagnie” (VOC), uma entidade tão importante, que merece algumas explicações sobre ela..

A VOC (Vereinigda Oostindische Compagnie), ou Companhia das Índias Orientais,  surgiu em 1602 pela fusão de várias firmas de navegação holandesas, formando a primeira empresa multinacional, de responsabilidade limitada e de capital aberto que se teve notícias.

 
 
(bandeira da Companhia Neerlandesa das Índias Orientais)


Receberam do estado holandes a liberdade de contratar soldados, construir embarcações de guerra e emitir moeda, tudo em nome dos Estados Gerais. Ao contrário de sua irmã, a GWC (Companhia das Índias Ocidentais), que encontrou a falência nas lutas dentro do Brasil, a VOC prosperou nas terras do Oriente, e lançou as bases do colonialismo holandês naquela parte do globo. A forma capitalista da empresa lhe deu um grande impulso, e os lucros obtidos compensavam as guerras com portugueses, ingleses e espanhóis no Oriente, de forma que a Companhia remeteu a Holanda grandes somas nas décadas que se seguiram à sua criação, e também expandiu o mundo colonial holandês de forma muito significativa na conquista territorial.
 
 
E quem era o comandante corsário desta importante flotilha de guerra? Foi Joris Van Spilbergen, um duro combatente naval, que alugando seus préstimos navegou em muitas águas a partir de 1596, tendo estado presente em expedições armadas na África, na Ásia, na Espanha (em Gibraltar então espanhola), na América espanhola e portuguesa (México, Chile, Brasil) e até nas Filipinas.
 

Em agosto de 1614, Van Spilbergen foi enviado pela Companhia das Índias Orientais (VOC)  com o propósito de procurar um caminho mais curto para as Molucas, pelo estreito de Magalhães, e teve sob suas ordens seis navios: — o Groote Zon, o Groote Maan, o Jager e o Meeuw, da Câmara de Amsterdã; o Eolus, da  Zelândia e o Morgenster, de Roterdã. Como já disse a VOC era privada, mas tinha atuação internacional, e gozava de prerrogativas excepcionais concedidas pelo governo holandês já antes explicadas.
 
(embarcação holandesa da VOC)


Van Spilbergen durante este cruzeiro em suas fainas marítimas acabou incursionando por águas brasileiras e nelas apresou uma caravela portuguesa com boa carga (provavelmente esta era a sétima embarcação que aparece no desenho), dirigindo-se então a ilha de São Vicente. Naquela época, Portugal, do qual dependia o Brasil, ainda era governado pelo rei espanhol, Filipe III, persistindo ainda conflitos armados entre Espanha e Holanda, razão do ataque não provocada às pequenas vilas luso-brasileiras.

(Filipe III, rei da Espanha e de Portugal em óleo de Pedro Antonio Vidal)

Sobre sua incursão existe uma versão holandesa, totalmente facciosa, pela qual os navegantes batavos tinham vindo em paz e “foram recebidos pelos portugueses de forma hostil, e (com eles) falharam todas as tentativas para estabelecer relações comerciais, razão porque os holandeses abriram de novo suas velas deixando aquelas regiões inospitaleiras”. A verdade, porém, é que a sua inusitada visita e estadia ai foram marcadas pelo derramamento de sangue, destruições e saques.

De qualquer forma, como sobre tudo aquilo só exista aquele impreciso desenho, eu o reproduzo novamente em outra imagem, desta vez colorida, para assim melhor fazer diversos comentários.


(a mesma gravura colorida digitalmente por Victor Hugo Mori, IPHAN, SP)


Neste já se veem sete embarcações holandesas, sendo cinco agrupadas e duas deslocadas, fora um navio português incendiado. Uma delas, a esquerda e acima (Meeuw ou Gaivota) vigia o porto de São Vicente, enquanto a direita e abaixo no canal está outra (Jager ou Caçador) a certa distância de uma fortaleza, cujo fogo os seus escaleres de reconhecimento não ousaram enfrentar. Logicamente, esta é a fortaleza da Barra Grande, sobre a qual depois irei discorrer. Havendo ainda uma incursão em outros escaleres inimigos em demanda a vila de Santos.

As duas vilas de Sanctus e St. Vincent têm portas, estacada, igrejas, edifícios altos, sendo a segunda maior do que a primeira. Notam-se em diferentes pontos do litoral numerosas tropas de índios e brancos armados, à espera do desembarque dos batavos.

A ilha de Santo Amaro não chega a encobrir a entrada da baía e não apresenta uma larga costa oceânica, como de fato acontece. Consequentemente, o canal da Bertioga sai dentro da baía, e leva o autor do desenho a alguns enganos. O principal deles é localizar a vila de Santos na ilha de Santo Amaro, quando na realidade ela está sobre a margem direita, na ilha de São Vicente, bem em frente ao estuário existente entre esta e a ilha de Santo Amaro.

Para melhor entender a realidade é bom se examinar o mapa abaixo, que é atual, mas mostra as duas ilhas e o continente, sem esquecer Santos, São Vicente e Bertioga, como realmente eram e são até hoje.


(parte do litoral paulista em desenho atual)


Veem-se ainda outras cenas importantes, a saber: o incêndio de um engenho (de Jerônimo Leitão), de uma igreja ("Santa Maria das Naus" ou "Nossa Senhora das Naus") e de um depósito de açúcar (trapiche do Engenho de Jerônimo Leitão). Fora outras também importantes, como a cena de um desembarque batavo e uma outra de uma marcha deles em formatura. Fora outras de pouca importância: um índio balançando-se numa rede, e mais dois índios nus, logicamente algo que atraiu a curiosidade do desenhista. Sobre aquele engenho, seu trapiche e a igreja então destruídos, destaco que o primeiro chamava-se Engenho Nossa Senhora das Naus, realmente era de Jerônimo Leitão e fora construído junto ao Mar Pequeno, aonde hoje se situam as ruínas do chamado Porto das Naus, tudo isto em São Vicente. Tão isolados foram fácil presa dos irascíveis holandeses.
Diante deste quadro percebe-se que as coisas foram bem duras na Ilha de São Vicente. Mas, seus habitantes não se acovardaram e reagiram o melhor que puderam aos invasores. Era então Capitão-mor da Capitania, Paulo da Rocha Siqueira, residente em Santos, e foi ele com os principais homens da terra, quem iniciaram a resistência. Amador Bueno da Ribeira, aquele que bem depois não quis ser rei paulistano, sabendo do que ocorria na baixada desceu de São Paulo, aonde vivia, com um corpo de paulistas e de índios, armados à sua custa, e que fora engrossado por outros paulistas eminentes e seus colaboradores, em socorro das vilas ilhoas. Todos eles unidos corajosamente salvaram as duas povoações, após rudes combates na faixa praiana, com o apoio dos canhões da Fortaleza da Barra Grande e de algumas peças de artilharia postadas na praia do Embaré. Diante da forte reação os invasores desistiram de seus maus intentos, retiraram-se para seus navios e neles partiram, para nunca mais retornar. Graças a Deus!

Durante os fatos teve importante papel defensivo a Fortaleza de Santo Amaro da Barra Grande, cujos fogos causaram mortes e danos aos invasores, auxiliando muito aos demais combatentes luso-brasileiros.

 



(Fortaleza da Barra Grande – desenho de Lauro Ribeiro da Sila – RIBS)


Esta, fora erguida em 1584, por ordem do rei Felipe II, na embocadura do estuário de Santos, conforme projeto do arquiteto militar, Giovanni Battista Antonelli. Ela foi então assentada sobre um esporão rochoso, coberto pela Mata Atlântica, que se projetava sobre o canal de acesso ao Porto de Santos. E foi levantada quando esta  necessidade se tornou patente após a ação militar vitoriosa de Andrés Higino, da esquadra de Valdez, contra os navios ingleses de Edward Fenton, em 1583, algo de que já tratei anteriormente neste blog.

Como agradecimento pelo seu papel nas pugnas então ocorridas, Amador Bueno da Ribeira tornou-se logo depois Capitão-mor de São Vicente, uma grande honra, que ele aceitou, mas sem aceitar receber por isto qualquer remuneração, algo que ele próprio impôs espontaneamente.

Não custa se dizer, que Santos e São Vicente, dependiam especialmente naquela época da exploração do açúcar, que era cultivado em Cubatão e no sitio São Jorge (neste surgiu muito depois um dos bairros santistas, a Vila São Jorge), aonde havia um dos diversos engenhos, chamado dos Erasmos, fora diversos outros em toda a área, sendo depois o açúcar neles produzido exportado através do pequeno porto santista. Criava-se também gado, curtindo-se seus couros, com isto garantindo-se alimentação e rendas. Os indígenas assimilados também trabalhavam e recebiam em pagamento quinquilharias havendo então pequeno número de escravos negros. As duas vilas eram fortificadas para preserva-las dos índios selvagens e dos corsários, contando até com pequena artilharia para tal. Isto foi muito bom, pois senão elas teriam sido arrasadas pelo feroz Spielbergen. Daquela época distante só restaram vestígios de parte do Engenho dos Erasmos, hoje tombado e preservado, conforme imagem a seguir.



(Engenho dos Erasmos – tela de Carlos Fabra)
 
Depois de batido na Ilha de São Vicente Van Spilbergen prosseguiu sua derrota e pelo Estreito de Magalhães foi até o Oceano Pacífico no atual Chile e dentre outras ações acabou invadindo a ilha de Santa Maria, e a cidadezinha de Auroca, por duas vezes. Nesta expulsou a guarnição espanhola e ainda mandou incendiar todas as casas. Só por isto se vê qual era o real ânimo do chefe holandês. Na sequência, o mesmo fundeou em Valparaíso, onde segundo a história holandesa encontrou já todas as habitações incendiadas pelos espanhóis.  Foi ali, que 200 marinheiros e soldados batavos obtiveram grande vitória contra as tropas espanholas, fazendo nestas prisioneiros.

Em continuidade já em 17 de julho de 1615 Spielbergen entrou em combate com uma frota espanhola composta de oito galeões tripulados por 1.600 marujos e soldados, sob o comando do almirante espanhol Rodriguez de Mendoza, que ele derrotou, embora estivesse em inferioridade de embarcações. Este foi ainda o primeiro embate naval em que os holandeses tiveram uma vitória completa contra os espanhóis nessa parte do mundo. Essa derrota também custou à Espanha quatro grandes galeões e, entre os mortos, que se elevaram a cerca de mil, contavam-se os próprios almirante e vice-almirante hispânicos. Ai Spielbergen mostrou que era mesmo um valoroso lobo do mar.



(navio de guerra holandês disparando seus canhões – tela a óleo de Willem van de Velde II)
 
Comparando estas vitórias com os magros resultados obtidos na Ilha de São Vicente, de onde ele se retirou derrotado, percebe-se o valor daquela gente luso-brasileira, que incluía indígenas, todos eles pessoas simples e corajosas, que ali viviam enfrentando grandes dificuldades, e que esforçando-se ao máximo bateram a valorosa e bem treinada e armada tropa naval e terrestre dos holandeses.

 
Como se percebeu neste relato Joris Van Spilbergen era um hábil e corajoso comandante naval. Também ele mostrou em suas viagens a sua classe social e sua boa educação, pois gostava de viver bem a bordo, mantendo o seu navio bem provido de virtualhas e de bebidas, além de exigir que seus tripulantes fossem bem uniformizados. Mas, estranhamente morreu pobre na Holanda em 1620.



(Joris van Spilbergen, 1568 - 1620)

E a Vereinigda Oostindische Compagnie” (VOC), o que houve no curso do tempo com ela? Na verdade, seus ataques e pilhagens renderam-lhe grandes lucros durante bastante tempo. Em 1669, a VOC era a mais rica companhia privada do mundo, com mais de 150 navios mercantes, 40 navios de guerra, 50 000 funcionários, um exército privado de 10 000 soldados e uma distribuição de dividendos de 40%. Mas, as guerras encetadas contra os ingleses a enfraqueceram comercialmente, sendo que em 1796 ela foi estatizada e em 1803 acabou sendo fechada, já falida e com muitas dívidas.
 

Observando as suas atividades ao longo de tanto tempo notei que esta empresa, aproveitando-se da longa guerra hispano-holandesa, buscava ganhar bastante dinheiro, mediante ações bélicas em terra e no mar. Atacava e ocupava terras, guerreando seus anteriores ocupantes, batia-se contra naves de guerra e apresava ambarcações mercantes inimigas. Transformou uma guerra bilateral em fonte de ganhos próprios, recolhendo impostos ao estado batavo. Quanto a Joris Van Spilbergen o mesmo não era pirata, mas um mercenário naval, que colocando-se sobre as ordens daquela grande firma, exercia em especial a guerra de corso.


De tudo aquilo de então nesta cidade de Santos só restou passados tantos séculos fora as ruinas do velho engenho só mesmo a velha fortaleza aqui referida (situada no município de Guarujá), que continua preservada e cuja imagem atual  reproduzo a seguir:

 


(ao fundo o velho forte e navegando no estuário uma nave de guerra brasileira)




Fontes:

 
NETSCHER, P.M. OS HOLANDESES NO BRASIL. Tradução de Mário Sette. São Paulo: Companhia Editora Nacional. Edição 1942.

 


 

Coleção - Imagens Período Colonial - São Paulo. <http://www.sudoestesp.com.br/file/colecao-imagens-periodo-colonial-sao-paulo/667/> Acesso em: 04/02/2015.

 

Fórum de Numismática. http://www.forum-numismatica.com/viewtopic.php?f=63&t=85630 Acesso em: 16/02/2015.

 

Wikipédia, a enciclopédia livre. http://pt.wikipedia.org/wiki/Filipe_III_de_Espanha Acesso em: 03/03/2015.

 

Wikipédia, a enciclopédia livre. http://pt.wikipedia.org/wiki/Companhia_Holandesa_das_%C3%8Dndias_Orientais Acesso em: 10/03/2015.

 

Novo Milênio. Spielbergen atacou Santos em 1615. http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0049a1.htm A matéria virtual contem trechos da obra História de Santos, de autoria de Francisco Martins dos Santos 2.ª edição, Santos-SP, 1986. Acesso em: 21/03/2015.