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terça-feira, 9 de junho de 2015

Populares no século XIX bombardeiam navio de guerra britânico no Brasil (III).

(continuação...)


O navio inglês levou a pior. Combatendo em águas interiores e com suas manobras limitadas pelo reboque dos navios apresados, o Cormorant sofreu importantes danos. Os próprios brigues Dona Ana e Sereia foram seriamente atingidos e o capitão Schomberg afundou-os na entrada da baía. Mas, a galera Campeadora já tripulada por ingleses seguiu viagem até Serra Leoa, na África. Entre os ingleses houve três baixas, uma fatal e outras duas apenas feridos. No lado dos brasileiros os danos materiais foram mínimos e houve apenas feridos leves.

Como consequência de suas ações bélicas os paranaenses que atentaram contra o navio britânico foram recebidos com honras pela população da cidade, mas não é errado se dizer  que muitos deles não passavam de pessoas que viviam do tráfico de escravos.

A reputação da Royal Navy havia sido maculada. Um moderno navio inglês ser atacado por uma velha fortaleza com armamento antigo, improvisado e guarnecido, em boa parte, por civis destreinados já era motivo de vergonha suficiente.  Os atos ocorridos na baia de Paranaguá acirraram os ânimos do governo britânico, que exigiu uma reparação formal do governo brasileiro.

Naquele tempo D. Pedro II, que reinava e governava o Brasil desde os 15 anos de idade (1840) estava perto dos 25 anos e já tomara bom pulso sobre a política e o país. Coube, porém, ao seu governo atuar, o que coube ao Ministro da Justiça, Eusébio de Queiros, que propôs uma lei que extinguia o tráfico negreiro no Brasil, a qual foi aprovada pelo parlamento e sancionada pelo monarca (Lei no. 581 - de 04 de setembro de 1850).

Sobre ela escreveu Eliardo França Teles Filho:  

Consta que após o fim do tráfico, o país entrou em uma fase de prosperidade econômica, uma vez que boa parte dos capitais antes investidos no tráfico ilegal de escravos se converteu para a economia formal. Por outro lado, atribui-se a esta lei a virtude de ter dado início ao processo de transformações econômicas que levaria à decadência da forma de produção escravista. Isto porque o fim do tráfico gerou uma carência de escravos, levando ao aumento de seu preço e ao direcionamento do estoque existente apenas para as atividades produtivas mais dinâmicas, isto é, a plantação de café. Com isso, abriram-se postos de trabalho para a mão de obra livre nas zonas urbanas e nas regiões não produtoras de café, dando início à transição da economia escravista para a economia com mão de obra assalariada”.
            
                         
Bom se saber, que naquela época o Império do Brasil preparava-se lenta e cuidadosamente para intervir no Prata e derrubar Juan Manuel de Rosas, o ditatorial governante argentino, algo que precisaria ao menos da complacência britânica para ser concretizado. Daí ter então, que “pisar em ovos” em tudo que se referisse a irascível Albion, o que também explica a leniência de suas ações com o poderoso Império Britânico diante do ultraje, que este sofrera em Paranaguá.

No fundo ainda D. Pedro II era contra a escravidão dos negros e o ministro Eusébio de Queiroz compartilhava deste ideal. Mas, as resistências internas a sua abolição eram bem grandes e o Estado Imperial temia precipitar uma grave crise política e econômica no país se a decretasse.

De qualquer forma, a Lei Eusébio de Queiroz produziu lentos efeitos na sociedade, custando a pegar, mas isto acabou ocorrendo, mas bem aos poucos , tanto que só em outubro de 1855 se verificou o último desembarque de escravos em Pernambuco, cujos implicados foram presos.

                                                              


(o Imperador D. Pedro II)


Com o passar do tempo o capitão Schomberg alcançou o posto de almirante já no final de sua carreira. Já o capitão Barbosa, comandante da fortaleza, por não impedir a tomada do quartel por civis, foi rebaixado à condição de soldado de terceira categoria. Quanto ao “Bill Aberdeen” o governo inglês veio a revoga-lo em 1869, o que demonstra que só então eles se convenceram que o tráfico de escravos para o Brasil já cessara. Quanto a velha fortaleza, há muito desativada, ela sofreu uma restauração entre 1985 e 1995, em parte graças a recursos do Banco Mundial e hoje em dia abriga um pequeno museu. Destaco que as imagens dela aqui estampadas são as atuais.



Fontes:
 
TELES FILHO, Eliardo França. Eusébio de Queiroz e o Direito: um discurso sobre a Lei n. 581 de 4 de setembro de 1850. Rev. Jur., Brasília, v. 7, n. 76, p.52-60, dez/2005 a jan/ 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/rev_76/artigos/PDF/EliardoFranca_Rev76.pdf 
Acesso em: 02/05/2015

FROTA, Guilherme de Andréa. 500 ANOS DE HISTÓRIA DO BRASIL. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército. Edição 2000.

Wikipédia, a enciclopédia livre. http://pt.wikipedia.org/wiki/Incidente_de_Paranagu%C3%A1 Acesso em: 30/04/2015.

Wikipédia, a enciclopédia livre.  http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_II_do_Brasil#Consolida.C3.A7.C3.A3o Acesso em: 30/04/2015.

Tok de História. http://tokdehistoria.com.br/tag/forte-de-paranagua/ Acesso em: 30/04/2015.

Fortalezas.org. http://fortalezas.org/?ct=fortaleza&id_fortaleza=433 Acesso em: 30/04/2015.

Panoramio. Google Maps. http://www.panoramio.com/photo/2524920 Acesso em: 30/04/2015.

Multirio: História do Brasil. http://www.multirio.rj.gov.br/historia/modulo02/queiros.html. Acesso em: 03/05/2015.
 
 

 
 
 

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