O
navio inglês levou a pior. Combatendo em águas interiores e com suas manobras
limitadas pelo reboque dos navios apresados, o Cormorant sofreu importantes
danos. Os próprios brigues Dona Ana e Sereia foram seriamente atingidos e o
capitão Schomberg afundou-os na entrada da baía. Mas, a galera Campeadora já
tripulada por ingleses seguiu viagem até Serra Leoa, na África. Entre os
ingleses houve três baixas, uma fatal e outras duas apenas feridos. No lado dos
brasileiros os danos materiais foram mínimos e houve apenas feridos leves.
Como
consequência de suas ações bélicas os paranaenses que atentaram contra o navio
britânico foram recebidos com honras pela população da cidade, mas não é errado
se dizer que muitos deles não passavam
de pessoas que viviam do tráfico de escravos.
A
reputação da Royal Navy havia sido maculada. Um moderno navio inglês ser
atacado por uma velha fortaleza com armamento antigo, improvisado e guarnecido,
em boa parte, por civis destreinados já era motivo de vergonha suficiente.
Os atos ocorridos na baia de Paranaguá acirraram os ânimos do governo britânico,
que exigiu uma reparação formal do governo brasileiro.
Naquele
tempo D. Pedro II, que reinava e governava o Brasil desde os 15 anos de idade (1840)
estava perto dos 25 anos e já tomara bom pulso sobre a política e o país. Coube,
porém, ao seu governo atuar, o que coube ao Ministro da Justiça, Eusébio de
Queiros, que propôs uma lei que extinguia o tráfico negreiro no Brasil, a qual
foi aprovada pelo parlamento e sancionada pelo monarca (Lei no. 581 - de 04 de
setembro de 1850).
Sobre ela escreveu Eliardo França
Teles Filho:
“Consta que após o fim do tráfico, o país entrou em uma fase de prosperidade econômica, uma vez que boa parte dos capitais antes investidos no tráfico ilegal de escravos se converteu para a economia formal. Por outro lado, atribui-se a esta lei a virtude de ter dado início ao processo de transformações econômicas que levaria à decadência da forma de produção escravista. Isto porque o fim do tráfico gerou uma carência de escravos, levando ao aumento de seu preço e ao direcionamento do estoque existente apenas para as atividades produtivas mais dinâmicas, isto é, a plantação de café. Com isso, abriram-se postos de trabalho para a mão de obra livre nas zonas urbanas e nas regiões não produtoras de café, dando início à transição da economia escravista para a economia com mão de obra assalariada”.
“Consta que após o fim do tráfico, o país entrou em uma fase de prosperidade econômica, uma vez que boa parte dos capitais antes investidos no tráfico ilegal de escravos se converteu para a economia formal. Por outro lado, atribui-se a esta lei a virtude de ter dado início ao processo de transformações econômicas que levaria à decadência da forma de produção escravista. Isto porque o fim do tráfico gerou uma carência de escravos, levando ao aumento de seu preço e ao direcionamento do estoque existente apenas para as atividades produtivas mais dinâmicas, isto é, a plantação de café. Com isso, abriram-se postos de trabalho para a mão de obra livre nas zonas urbanas e nas regiões não produtoras de café, dando início à transição da economia escravista para a economia com mão de obra assalariada”.
Bom
se saber, que naquela época o Império do Brasil preparava-se lenta e cuidadosamente
para intervir no Prata e derrubar Juan Manuel de Rosas, o ditatorial governante
argentino, algo que precisaria ao menos da complacência britânica para ser
concretizado. Daí ter então, que “pisar em ovos” em tudo que se referisse a
irascível Albion, o que também explica a leniência de suas ações com o poderoso
Império Britânico diante do ultraje, que este sofrera em Paranaguá.
No
fundo ainda D. Pedro II era contra a escravidão dos negros e o ministro Eusébio
de Queiroz compartilhava deste ideal. Mas, as resistências internas a sua
abolição eram bem grandes e o Estado Imperial temia precipitar uma grave crise
política e econômica no país se a decretasse.
De
qualquer forma, a Lei Eusébio de Queiroz produziu lentos efeitos na sociedade,
custando a pegar, mas isto acabou ocorrendo, mas bem aos poucos , tanto que só
em outubro de 1855 se verificou o último desembarque de escravos em Pernambuco,
cujos implicados foram presos.
![]() |
(o Imperador D. Pedro II) |
Com
o passar do tempo o capitão Schomberg alcançou o posto de almirante já no final
de sua carreira. Já o capitão Barbosa, comandante da fortaleza, por não
impedir a tomada do quartel por civis, foi rebaixado à condição de soldado de
terceira categoria. Quanto ao “Bill Aberdeen” o governo inglês veio a revoga-lo
em 1869, o que demonstra que só então eles se convenceram que o tráfico de
escravos para o Brasil já cessara. Quanto a velha fortaleza, há muito
desativada, ela sofreu uma restauração entre 1985 e 1995, em parte graças a
recursos do Banco Mundial e hoje em dia abriga um pequeno museu. Destaco que as
imagens dela aqui estampadas são as atuais.
Fontes:
TELES FILHO, Eliardo França. Eusébio de Queiroz e o
Direito: um discurso sobre a Lei n. 581 de 4 de setembro de 1850. Rev. Jur.,
Brasília, v. 7, n. 76, p.52-60, dez/2005 a jan/ 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/rev_76/artigos/PDF/EliardoFranca_Rev76.pdf
Acesso em: 02/05/2015
FROTA, Guilherme de Andréa. 500 ANOS DE HISTÓRIA DO
BRASIL. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército. Edição 2000.
Wikipédia, a enciclopédia livre. http://pt.wikipedia.org/wiki/Incidente_de_Paranagu%C3%A1 Acesso em: 30/04/2015.
História Militar. http://darozhistoriamilitar.blogspot.com.br/2010/09/fortaleza-de-ns-dos-prazeres-ilha-do.html Acesso em: 30/04/2015.
Wikipédia, a enciclopédia livre. http://pt.wikipedia.org/wiki/Pedro_II_do_Brasil#Consolida.C3.A7.C3.A3o Acesso em: 30/04/2015.
Multirio: História do Brasil. http://www.multirio.rj.gov.br/historia/modulo02/queiros.html. Acesso em: 03/05/2015.
Antiqua Print
Gallery. http://www.antiquaprintgallery.com/ships-h-m-s-cormorant-original-antique-print-1878-96679-p.asp . Acesso em: 03/05/2015.
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