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sexta-feira, 15 de maio de 2015

Populares no século XIX bombardeiam navio de guerra britânico no Brasil (II).

(continuação...)


Uma ação militar britânica e a imediata reação armada de vários brasileiros:

Diante destas ações, elementos do povo começaram espontaneamente a agir contra os britânicos por conta própria, desde agressões físicas à tripulantes nas ruas do Rio de Janeiro, como também nas demais cidades e até mesmo nas praias, onde desembarcavam. Por exemplo, em 1850, um marinheiro inglês foi morto dentro do escaler do HMS Rifleman, quando um grupo de civis armados surpreendeu os marinheiros ingleses, que se refugiavam em pequena embarcação de uma forte tempestade no atual município de Guarujá, litoral paulista. Esta ação dos paulistas decorreu daquelas atitudes da marinha inglesa na costa brasileira, que irritavam a sua população.

Mas, a força naval britânica era realmente muito poderosa. Uma parcela desta, chegou em setembro de 1849 as águas sul-americanas, sob o comando do Contra-Almirante Barrington Reynolds. A nau capitânia era a fragata HMS Southampton, sob o comando do Capitão Cory, guarnecida com 50 peças de artilharia, coadjuvada por outros navios: a corveta a vapor HMS Sharpshooter, a corveta a vapor HMS Rifleman sob o comando do Tenente Crofton, a corveta a vapor HMS Tweed, a corveta a vapor HMS Harpy e a corveta a vapor com rodas laterais HMS Cormorant sob o comando do Capitão Herbert Schomberg. Haviam os navios de apoio: HMS Crescent e HMS Hermes, os quais atuavam para dar apoio àquela esquadra, trazendo suprimentos e carvão da Inglaterra. As corvetas a vapor eram basicamente equipadas com quatro canhões laterais de calibre 64 e duas torres sobre eixos com canhões de calibre 80.

O HMS Cormorant durante patrulhamento cruzou, na altura do litoral paranaense, o caminho de alguns navios brasileiros com aparentes evidências de transporte  negreiro. Os navios brasileiros não obedeceram à ordem de inspeção da nau inglesa e tomaram rumo a cidade portuária de Paranaguá. No dia 29 de junho de 1850, a corveta inglesa adentrou a baia de Paranaguá em perseguição a eles. No porto já se encontravam outros barcos. Neste dia o capitão inglês aprisionou os brigues Dona Ana e Sereia e a galera Campeadora. Note-se que nenhum cativo encontrava-se a bordo de qualquer deles, e se eles ali antes de achavam foram todos desembarcados a tempo. Para não ter o seu navio aprisionado o capitão do brigue Astro, José Francisco do Nascimento, afundou o seu navio, dizendo-se que os escravos que ali havia pereceram nisto.

Seu comandante sentia-se a salvo de insucessos, pois o Cormorant era uma corveta de casco de madeira, possuía propulsão a vapor e a vela, com uma grande roda de pá na lateral. Tinha um deslocamento de 1.590 toneladas, 55 metros de comprimento, uma tripulação com 45 homens e um armamento de quatro canhões laterais de calibre 64 e duas torres sobre eixos com canhões de calibre 80. Uma imponente nave de guerra!
 
                                                      



(corveta inglesa HMS Cormorant)

                                   
                                   






Neste mesmo dia as principais autoridades locais foram a bordo do Cormorant e parlamentaram com seu comandante Hubert Schumberg sobre os fatos ocorridos na baia. Nesta visita o capitão inglês apresentou um ofício relatando seus atos às autoridades locais, porém, eles se recusaram a receber o documento. Mas, o chefe naval nada fez para revogar seus atos anteriores e ainda acusou os visitantes presentes de serem cumplices do tráfico negreiro. Sabedores disso e vindos da localidade, alguns jovens destemidos resolveram tomar atitudes viris em nome da soberania nacional, sendo nisto acompanhados pelas tripulações dos navios apresados.

Todos eles desembarcaram no dia seguinte pela manhã na Ilha do Mel, aonde existia a obsoleta fortaleza Nossa Senhora dos Prazeres, e após entendimentos com o comandante da mesma, capitão Joaquim Ferreira Barbosa, fizeram incansáveis preparativos para o enfrentamento. Durante toda a noite, debaixo de muita chuva, um intenso fluxo de embarcações de pequeno porte levou para a fortaleza muita pólvora, armas portáveis, explosivos e projéteis. Para lá também seguiram carpinteiros e ferragens. Com muita boa vontade aquelas pessoas e a pequena guarnição da fortaleza, conseguiram montar entre dez e quatorze peças de artilharia sobre paus e pedras e dota-las das necessárias guarnições e respectivas munições.
                                                               

 (parte da muralha e entrada da citada fortaleza – foto de Paulo Yuji Takarada)

 
 
 
Eram cerca de nove da manhã de 1.° de julho de 1850, quando o  HMS Cormorant apareceu no rumo à barra, trazendo consigo a reboque os barcos brasileiros. Como o barco inglês vinha lento, o então comandante da fortaleza enviou um ofício ao capitão inglês, através de um escaler comandado por um sargento. Os termos deste ofício faziam menção de que o cruzador de guerra deveria seguir viagem sem os navios apreendidos, deixando estes em poder das autoridades locais e na desobediência deste ofício a fortaleza faria fogo ao vapor da Royal Navy. O ofício nunca foi entregue, pois o escaler nacional antes de chegar a nave foi repelido com um tiro de advertência de pólvora seca pela tripulação inglesa.


Diante disso a fortaleza revidou com um tiro e novamente o Cormorant fez fogo, agora para valer e visando a ilha, sendo em resposta alvejada por várias bombas de calibre 80 e balas 36. A guarnição da Ilha do Mel fez novos disparos, agora com todas as peças da fortaleza e nos trinta minutos que se seguiram houve o confronto entre a artilharia brasileira da fortaleza e os seis canhões do cruzador HMS Cormorant. O canhoneio brasileiro só cessou quando aquela nave sempre em movimento saiu do alcance das bocas de fogo brasileiras.

                                                             


      (imagem da ilha do Mel e de sua fortaleza - foto de Paulo Yuji Takarada)

    
 
 
(continua...)

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