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quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Batalha Naval durante a Guerra da Cisplatina

Velhos e bons livros acabam esquecidos em prateleiras de bibliotecas e por causa disso bons textos deixam de vir ao conhecimento público como, aliás, já escrevi antes e ora reitero. Pensando nisto reproduzo este fragmento de um deles, que se vê a seguir, com os devidos créditos, para assim divulga-lo aos que porventura leiam este blog. Tendo também ilustrado ao mesmo com algumas imagens recolhidas na WEB.


O tema versa sobre um episódio naval da  Campanha da Cisplatina, que foi um conflito ocorrido entre o Império do Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata (hoje Argentina), no período de 1825 a 1828, pela posse da Província Cisplatina, atual República Oriental do Uruguai. Aquela campanha findou com o reconhecimento da independência política deste último, com isto contentando os dois países adversários, nenhum dos quais ficou legalmente com aquele território.


“DEFESA HEROICA DA "IMPERATRIZ"


(Abordagem a fragata Imperatriz – tela de Trajano Augusto de Carvalho)

“O almirante William Brown, comandante em chefe da esquadra argentina durante a Campanha Cisplatina, não era homem que esmorecesse diante do primeiro insucesso. Os reveses mais sérios — e não foram poucos os que ele sofreu nos três anos dessa luta — os reveses mais sérios como que o predispunham para novas arremetidas contra o adversário temível que o cercava sempre por todos os lados, impedindo-lhe os movimentos. Por isso mesmo na tarde daquele dia — 27 de abril de 1826 — depois do ataque malogrado à Colônia do Sacramento, onde perdera o Belgrano, e do combate infeliz do dia 11 em que fora batido e obrigado a fugir, ele determinava as últimas providências para um novo cometimento audacioso. Durante a noite seria tomado por abordagem um dos navios brasileiros. E o escolhido era precisamente a fragata Nictheroy, do comando de James Norton, contra quem remordia o almirante fundo despeito e não menor desejo de vingança.

Tudo estava preparado por mão de mestre, carinhosamente, desveladamente, e nem o mais insignificante detalhe fora esquecido. Os marinheiros destinados à abordagem — escolhidos a dedo entre os mais valentes e robustos — já haviam recebido camisetas brancas para se diferençarem dos nossos, e já estavam devidamente industriados e treinados sobre o que deveriam fazer no momento preciso; calafates e caldeireiros tinham sido designados para, ao primeiro instante, pregar as escotilhas e cortar as amarras do navio abordado; o pessoal das gáveas recebera pistolas e granadas de mão para, do alto, melhor alvejar a nossa gente.

Saído de Buenos Aires um dia antes com seis de seus melhores navios, Brown fizera realizar nessa tarde o último exercício, com resultado excelente; e ao comunicar as últimas disposições a Thomas Espora, seu capitão de bandeira, cruzando em passos enérgicos o tombadilho da capitânia, ele esfregava as mãos, risonho, visivelmente satisfeito. Tinha como certo o feliz êxito do empreendimento planejado.




(Bandeira argentina por volta de 1820)


Ao cair da noite suspenderam os navios argentinos das proximidades do banco Ortiz, onde se achavam, e velejaram com destino a Montevidéu, em cujo porto estava fundeada a nossa esquadra. Navegavam na seguinte ordem: corveta 25 de Mayo (capitânia), brigues Independencia, Republica, Balcarce, Congresso e a escuna Sarandi.

Ora, regressando de uma viagem a Maldonado, a fragata Imperatriz fora fundear à terra de toda a esquadra brasileira, em frente ao forte de S. José, a fim de arriar e refrescar o aparelho. Seu comandante, o bravo e ilustrado capitão de fragata Luiz Barroso Pereira, imediato de Taylor no célebre cruzeiro da Nictheroy, não olvidara, todavia, as precauções aconselháveis na emergência, e conservou seu navio preparado para qualquer eventualidade.


(Comandante Luiz Barroso Pereira)

Noite clara, de luar belíssimo. Cerca de 11h45m o cabo de quartos da Imperatriz dirige-se ao primeiro-tenente Lúcio de Araújo, oficial de serviço, e previne-o da aproximação de seis navios. A princípio, dado o sossego que se notava nos demais navios brasileiros, o oficial não quis acreditar se tratasse de inimigos. Um marinheiro de nome Ivadish, aprisionado pouco antes na Colônia, reconhece, entretanto, a capitânia de Brown, e logo a guarnição foi acordada sem ruído, acorrendo todos a seus postos de combate.

“— Aonde está fundeada a "Nictheroy?” — pergunta Brown em inglês, com o auxílio do porta-voz, ao aproximar-se da Imperatriz, que ele supunha ser a fragata americana Doris. — Na mesma direção, mais à frente! — responde-lhe no mesmo idioma o voluntário Mariano Rosquellas, indicando a corveta inglesa Tweed.

Os navios argentinos seguem no rumo indicado; mas, verificada a burla, viram de bordo, em contramarcha, e a 25 de Mayo descarrega seus canhões sobre o navio brasileiro. Este já estava inteiramente preparado para o combate. Em vão, porém, seu bravo comandante tenta enfrentar o inimigo a vela: a primeira descarga inutilizara-lhe o velame, cortara-lhe os cabos de laborar. Com o auxílio do leme, entretanto, ora orçando, ora arribando, evita o Independência que tenta a abordagem pela proa e descarrega cerrado tiroteio sobre a capitânia buenairense que lhe enfiara o gurupés pela almeida da popa, esmagando-lhe um escaler. A luta se desenrola encarniçada, em lances de heroicidade e de bravura. O segundo-tenente Lopes da Silva, chefe do destacamento de abordagem, desdobra-se com a sua gente numa atividade pasmosa. Lúcio de Araújo, imperturbável, na mesa do traquete, desafia a peito descoberto as fúrias do inimigo, cujas fileiras vão desfalcando com certeiros tiros.

No mais aceso da peleja sobrevém-nos desgraça irremediável. O comandante Barroso Pereira, atingido por uma bala em pleno peito, tomba nos braços do homem do leme. Mas ainda morrendo, ele revela a têmpera do verdadeiro patriota. Alteia o busto ferido e brada à marinhagem que o adorava: Não se assustem camaradas, não foi nada! Substitui-o incontinente o capitão-tenente Rabelo da Gama, imediato, e já agora há uma chama nova a animar os defensores da fragata que ansiavam vingar a morte do seu comandante.

Diante da resistência heroica, Brown reconhece irrealizável o seu intento, e resolve interromper a luta. O gajeiro da gata, porém, passa o chicote do braço grande pelo gurupé da 25 de Mayo e conserva-a mais algum tempo sob o fogo cerrado da nossa fuzilaria, bem como dos dois guardas-leme, enquanto a bateria toda responde ardorosamente ao fogo das demais unidades argentinas.

   Uma hora e quinze minutos durava o combate quando o inimigo bate em retirada, precipitadamente, pois os outros navios da esquadra brasileira se aproximavam atraídos pelo ribombar dos canhões.

   À frente deles, destemeroso, vinha Norton com a sua garbosa Nictheroy. Fora-se o ensejo de, mais uma vez, medir forças com Brown. Este, porém, não perderia por esperar..."


Fonte:
PRADO MAIA, João. Através da história Naval Brasileira. São Paulo: Companhia Editora  Nacional. Edição 1936.




(Bandeira brasileira de então)





Elucidou o Barão do Rio Branco em livro que escreveu as  razões, que levaram Barroso Pereira a ser ferido mortalmente durante o embate naval. Quando escreveu:


 “Colocou-se Barroso Pereira no lugar mais perigoso do navio, contra a vontade de seus oficiais; e, com os braços cruzados, aí se conservou através de uma nuvem de balas. Alcançou-o uma delas poucos minutos antes do começo da ação. Sem dar um só grito, levou ele com calma as mãos ao peito: – Não foi nada camaradas – exclamou ele. Recuou três passos e caiu gritando: “Ao fogo!” Baldias, frustâneas, foram às esperanças do que supunham vê-lo tornar a si. Poucos segundos depois expirou.”


Fonte:
PARANHOS JÚNIOR, José Maria da Silva. Obras do Barão do Rio Branco VII: biografias. – Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 2012.



Não custa se asseverar, que tanto no Brasil como no exterior, naquela época os comandantes de forças terrestres ou marítimas agiam sempre assim, para estimular os seus subordinados.

Em recordação ao mesmo seu nome foi dado ao Navio de Transporte de Tropas Barroso Pereira - G 16 – que foi construído sob encomenda da MB no Japão e desempenhou muitas fainas marítimas para esta entre 1955 e 1995. Tanto que durante seus quarenta anos de serviço atingiu as marcas de 888.370 milhas navegadas  e 3.420 dias de mar.


(Navio para transporte de tropas BARROSO PEREIRA)




Fontes das principais imagens:


Wikipédia, a enciclopédia livre. https://pt.wikipedia.org/wiki/Bandeira_da_Argentina . Acesso em: 02/01/2018.

Navios de Guerra Brasileiros. NTrT Barroso Pereira - G 16. http://www.naval.com.br/ngb/B/B022/B022.htm . Acesso em: 02/01/2018.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Episódios da guerra submarina relacionados ao Brasil na II Guerra Mundial.


                                     

(Adolf Hitler)

O Brasil entrou em guerra contra a Alemanha e Itália em 31 de agosto de 1942, face ao afundamento nas costas nordestinas de cinco navios mercantes brasileiros, pelo submarino germânico U-507 durante o mesmo mês. A incursão fora ordenada pelo Comodoro Karl Dönitz, comandante da arma submarina do primeiro país, com plena autorização do governo nazista.

Não houvera da parte do Brasil qualquer ação bélica contra a Alemanha, os navios brasileiros eram de carga e passageiros e singravam águas costeiras do Brasil. Mas, o regime nazista estava muito descontente com nosso país, por ações a ele atribuidas, mas bem proprias de um país soberano no exercício desta e durante um conflito bélico mundial. Daí o ataque não provocado, que feriu os brios brasileiros, molestou seu governo e que levou a nossa declaração de guerra.

A guerra mundial em toda a sua duração não atingiu a porção continental, nem as ilhas oceanicas do Brasil, mas foi realmente dura nas águas dos mares. O Brasil já perdera por ataques germanicos e italianos entre 22 de março de 1941 e 28 de julho de 1942 quinze navios, sempre em águas distantes de nossa terra. Após o início oficial da guerra e até o seu final perdeu mais vinte outros sempre por ataques maritimos. Só uma boa notícia a população recebeu, quando soube que o  U-507, responsável pelo massacre de agosto de 1942, fora afundado no dia 13 de janeiro de 1943, no Oceano Atlântico, aproximandamente a 100 milhas do litoral do Ceará, por cargas de profundidade de um avião Catalina americano, causando a morte de todos os seus 54 tripulantes.

Escreveu sobre tudo isto seria bem extenso, mas vou tratar aqui apenas do algoz de um destes barcos, o Tutoia, que em 1º de julho de 1943, foi  torpedeado ao largo de Iguape, litoral sul de São Paulo, causando a morte de sete pessoas. Aquele foi o Unterseeboot 513 (U-513), um submarino alemão de longo alcance, pertencente à Kriegsmarine.

A seguir uma parte de sua história e algo das vidas de seus tripulantes neste vídeo cuja fonte é nele claramente indicada:


<https://youtu.be/8TmfmLj3Q0M>



Mas, tudo nesta vida se acaba, e numa guerra ainda mais rápido, muitas vezes de maneira trágica. Pois, a mortífera embarcação nazista também finou-se, pois foi afundada na costa brasileira nas imediações de São Francisco do Sul, estado de Santa Catarina, em 19 de julho de 1943 por cargas de profundidade. Desapareceram com o U-boot 46 tripulantes, sobreviveram 7 entre eles o comandante, Friedrich Guggenberger. O submarino foi redescoberto em 14 de julho de 2011, à profundidade de 135 m, por pesquisadores brasileiros.


Fontes:

Wikipédia, a enciclopédia livre. https://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_D%C3%B6nitz#Segunda_Guerra_Mundial. Acesso em: 02/01/2018.

Wikipédia, a enciclopédia livre. https//pt.wikipedia.org/wiki/U-513.  Acesso em: 02/01/2018.

Wikipédia, a enciclopédia livre. https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_navios_brasileiros_atacados_na_Segunda_Guerra_Mundial#Lista_dos_navios_atacados . Acesso em: 02/01/2018.