Uma ação militar britânica
e a imediata reação armada de vários brasileiros:
Diante
destas ações, elementos do povo começaram espontaneamente a agir contra os britânicos
por conta própria, desde agressões físicas à tripulantes nas ruas do Rio de
Janeiro, como também nas demais cidades e até mesmo nas praias, onde
desembarcavam. Por exemplo, em 1850, um marinheiro inglês foi morto dentro do
escaler do HMS Rifleman, quando um grupo de civis armados surpreendeu os
marinheiros ingleses, que se refugiavam em pequena embarcação de uma forte
tempestade no atual município de Guarujá, litoral paulista. Esta ação dos
paulistas decorreu daquelas atitudes da marinha inglesa na costa brasileira,
que irritavam a sua população.
Mas,
a força naval britânica era realmente muito poderosa. Uma parcela desta, chegou
em setembro de 1849 as águas sul-americanas, sob o comando do Contra-Almirante
Barrington Reynolds. A nau capitânia era a fragata HMS Southampton, sob o
comando do Capitão Cory, guarnecida com 50 peças de artilharia, coadjuvada por
outros navios: a corveta a vapor HMS Sharpshooter, a corveta a vapor HMS
Rifleman sob o comando do Tenente Crofton, a corveta a vapor HMS Tweed, a
corveta a vapor HMS Harpy e a corveta a vapor com rodas laterais HMS Cormorant
sob o comando do Capitão Herbert Schomberg. Haviam os navios de apoio: HMS
Crescent e HMS Hermes, os quais atuavam para dar apoio àquela esquadra,
trazendo suprimentos e carvão da Inglaterra. As corvetas a vapor eram
basicamente equipadas com quatro canhões laterais de calibre 64 e duas torres
sobre eixos com canhões de calibre 80.
O
HMS Cormorant durante patrulhamento cruzou, na altura do litoral paranaense, o
caminho de alguns navios brasileiros com aparentes evidências de
transporte negreiro. Os navios
brasileiros não obedeceram à ordem de inspeção da nau inglesa e tomaram rumo a
cidade portuária de Paranaguá. No dia 29 de junho de 1850, a corveta inglesa
adentrou a baia de Paranaguá em perseguição a eles. No porto já se encontravam
outros barcos. Neste dia o capitão inglês aprisionou os brigues Dona Ana e Sereia
e a galera Campeadora. Note-se que nenhum cativo encontrava-se a bordo de
qualquer deles, e se eles ali antes de achavam foram todos desembarcados a
tempo. Para não ter o seu navio aprisionado o capitão do brigue Astro, José
Francisco do Nascimento, afundou o seu navio, dizendo-se que os escravos que
ali havia pereceram nisto.
Seu
comandante sentia-se a salvo de insucessos, pois o Cormorant era uma corveta de
casco de madeira, possuía propulsão a vapor e a vela, com uma grande roda de pá
na lateral. Tinha um deslocamento de 1.590 toneladas, 55
metros de comprimento, uma tripulação com 45 homens e um armamento de quatro
canhões laterais de calibre 64 e duas torres sobre eixos com canhões de calibre
80. Uma imponente nave de guerra!
![]() |
(corveta inglesa HMS Cormorant) |
Todos
eles desembarcaram no dia seguinte pela manhã na Ilha do Mel, aonde existia a
obsoleta fortaleza Nossa Senhora dos Prazeres, e após entendimentos com o
comandante da mesma, capitão Joaquim Ferreira Barbosa, fizeram incansáveis
preparativos para o enfrentamento. Durante toda a noite, debaixo de muita
chuva, um intenso fluxo de embarcações de pequeno porte levou para a fortaleza
muita pólvora, armas portáveis, explosivos e projéteis. Para lá também seguiram
carpinteiros e ferragens. Com muita boa vontade aquelas pessoas e a pequena
guarnição da fortaleza, conseguiram montar entre dez e quatorze peças de
artilharia sobre paus e pedras e dota-las das necessárias guarnições e
respectivas munições.
Eram
cerca de nove da manhã de 1.° de julho de 1850, quando o HMS Cormorant
apareceu no rumo à barra, trazendo consigo a reboque os barcos brasileiros.
Como o barco inglês vinha lento, o então comandante da fortaleza enviou um
ofício ao capitão inglês, através de um escaler comandado por um sargento. Os
termos deste ofício faziam menção de que o cruzador de guerra deveria seguir
viagem sem os navios apreendidos, deixando estes em poder das autoridades
locais e na desobediência deste ofício a fortaleza faria fogo ao vapor da Royal
Navy. O ofício nunca foi entregue, pois o escaler nacional antes de chegar a
nave foi repelido com um tiro de advertência de pólvora seca pela tripulação
inglesa.
Diante
disso a fortaleza revidou com um tiro e novamente o Cormorant fez fogo, agora
para valer e visando a ilha, sendo em resposta alvejada por várias bombas de
calibre 80 e balas 36. A guarnição da Ilha do Mel fez novos disparos, agora com
todas as peças da fortaleza e nos trinta minutos que se seguiram houve o
confronto entre a artilharia brasileira da fortaleza e os seis canhões do
cruzador HMS Cormorant. O canhoneio brasileiro só cessou quando aquela nave
sempre em movimento saiu do alcance das bocas de fogo brasileiras.